top of page

Ao mestre com carinho, honra e louvor

Atualizado: 22 de out. de 2021

O Dia do Professor foi criado no Brasil por Antonieta Barros, filha de ex-escravos e educadora, a primeira parlamentar de Santa Catarina a ocupar um cargo num estado majoritariamente branco e masculino. Com força e sagacidade, transpôs barreiras de gênero, de raça e de classe.

ree
Antonieta de Barros acreditava que a educação era o caminho para o futuro. Foto: Registro do acervo do Memorial Antonieta de Barros.

Quinze anos antes de se tornar lei no Brasil, Antonieta de Barros, criou o dia do professor em Santa Catarina-SC. Uma das três primeiras mulheres eleitas no Brasil, sua bandeira política era o poder revolucionário e libertador da educação para todos.


Até então, a data era comemorada informalmente em todo o país, relembrando a primeira grande lei educacional do Brasil, sancionada por Dom Pedro I em 15 de outubro em 1827, um marco para a educação brasileira.


Em outubro de 1948, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina aprovou a Lei Nº 145, que criou o Dia do Professor e o feriado escolar na data. A data somente foi oficializada no país inteiro, em outubro de 1963, pelo presidente João Goulart. A proposta foi da deputada estadual Antonieta de Barros.


Entre as três primeiras mulheres eleitas no Brasil, Antonieta foi a única negra assumiu em 1934, o cargo de deputada estadual por Santa Catarina, mesmo ano que a médica Carlota Pereira de Queirós foi eleita deputada federal por São Paulo. Sete anos antes, Alzira Soriano havia sido eleita prefeita num pequeno município do Rio Grande do Norte, primeiro estado a permitir disputas femininas.


Histórias e conquistas

ree
Antonieta de Barros. Foto: UFMG/Reprodução.

Antonieta de Barros Nasceu em Desterro, como era chamada Florianópolis, no dia 11 de julho de 1901. No registro de batismo, na Cúria Metropolitana, realizado pelo Padre Francisco Topp, não aparece o nome do pai. A mãe era Catarina Waltrich, escrava liberta. No imaginário popular, a verdadeira paternidade estaria ligada à família Ramos, uma das mais tradicionais do Estado.


Para chegar até a Assembleia Legislativa, em 1934, ostentando o grande feito de ser a primeira deputada mulher de Santa Catarina, Antonieta travou uma história de rompimento de barreiras racial, de gênero e de classe.


Foi em um dos empregos da mãe, na casa do político Vidal Ramos, em Lages (SC), que a paixão de Antonieta pela educação começou. Com a ajuda da família empregadora, a quem os historiadores afirmam que tinham carinho por Antonieta e a mãe, ela foi alfabetizada em uma escola particular em 1906, quando tinha cinco anos. Quatro anos depois foi para a escola pública e aos 16 anos, em 1917, preparava-se para fazer as provas da Escola Normal Catarinense - formação que a daria possibilidade de seguir o sonho de ser professora.


O sonho individual se tornou coletivo quando, antes de se formar, Antonieta decidiu passar o conhecimento obtido para outras pessoas à margem da sociedade. Em maio de 1922, aos 17 anos, ela inaugurou o Curso Particular de Alfabetização Antonieta de Barros, cujo objetivo era preparar alunos para os exames de admissão do chamado Ginásio do Instituto de Educação e da Politécnica, além de alfabetizar adultos. A educadora acreditava que o ensino libertaria as pessoas dos postos de marginalização.


"Educar é ensinar os outros a viver; é iluminar caminhos alheios; é amparar debilitados, transformando-os em fortes; é mostrar as veredas, apontar as escaladas, possibilitando avançar, sem muletas e sem tropeços; é transportar às almas que o Senhor nos confiar à força insuperável da Fé”, frisou em um dos discursos feitos no Congresso.

Nas redações e movimentos políticos


Para ampliar os ideais educacionais pelos quais lutava, Antonieta começou a participar, em 1922, de movimentos políticos, ainda enquanto estudava na Escola Normal, com a atuação na militância Liga do Magistério, na qual se tornou a primeira secretária. Três anos depois, ela passou a participar da formação do Centro Catarinense de Letras (CCL), do qual tornou-se membro da diretoria.


Em 1926, assumiu o posto de escritora e jornalista, tornando-se uma das poucas mulheres que o faziam, principalmente no estado catarinense. A intenção de Antonieta era levar a mais pessoas as mudanças necessárias no Estado, como questões sociais, a necessidade de ações para crescimento educacional e redução do analfabetismo, e as definições dos papéis sexuais. Foi nessa época que ela, com o pseudônimo de Maria da Ilha, fundou o jornal A semana; além de contribuir para a Folha Acadêmica, O Idealista, Correio do Estado e O Estado.


Em um artigo publicado em outro veículo, o Jornal República, em julho de 1932, Antonieta fez duras críticas à falta de oportunidades de mulheres continuarem a formação estudantil em faculdades.


“Há uma grande lacuna na matéria de ensino: a falta dum ginásio onde a mulher possa conquistar os preparatórios para ingressar no ensino superior. O elemento feminino vê, assim, fechados diante de si, todos os grandes horizontes”, frisou na publicação.

Legado


Antonieta faleceu por complicações de um quadro de diabetes, em 28 de março de 1952. No entanto, o legado da educadora e escritora permanece vivo até hoje. Em homenagem a ela, foi criada a Medalha de Mérito Antonieta de Barros, que homenageia pessoas físicas e jurídicas que criam trabalhos relevantes, ou, ainda, destacam-se na luta na defesa do direito das mulheres.


Também leva o nome da heróina brasileira negra da educação o Prêmio Antonieta de Barros, criado pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial direcionado a reconhecer jovens comunicadores negros do país.


A historiadora Karla Leonora Nunes, na tese de doutorado sobre a educadora, afirma que Antonieta “é uma personagem feminina que inaugura o cenário político catarinense por ter sido eleita a primeira deputada na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina em um tempo e em um espaço onde tal fato ainda estava muito distante da maioria das mulheres negras de nossa terra”.


Hoje, 15 de outro de 2021, a primeira mulher negra a ser eleita deputada no Brasil, foi destaque no jornal EL País, na reportagem da jornalista Aline Torres que faz uma recopilação histórica da trajetória de Antonieta, que nasceu, trabalhou e morreu no Centro de Florianópolis.


Veja trechos:


“Catarina teve três filhos e os sustentava como lavadeira, serviço comum às mulheres negras da época. Também teve, com a ajuda financeira de Vidal Ramos, uma pequena pensão para estudantes. Foram esses jovens que ensinaram as letras tardiamente para a curiosa Antonieta. Alfabetizada, mergulhou por conta própria no universo dos livros.”


“Professora formada, tinha 17 anos quando fundou o curso particular “Antonieta de Barros”, com o objetivo de combater o analfabetismo de adultos carentes. Sua crença era que a educação era a única arma capaz de libertar os desfavorecidos da servidão. Sua fama de excelente profissional, no entanto, fez com que lecionasse também para a elite nos Colégio Coração de Jesus, Dias Velho e Catarinense.”


"Antonieta era a exceção. Era aceita pelos brancos. Mas, vale ressaltar que, de 1929 a 1951, escreveu em oito jornais sem nunca ter falado de sua cor. O que não foi impeditivo para ouvir de um colega de bancada parlamentar, o médico Oswaldo Rodrigues Cabral, que ela escrevia 'intriga barata de senzala' ."


Este jornal tem orgulho em homenagear Antonieta de Barros, tendo em vista o tanto de representatividade que sua história de vida tem na nossa sociedade. O legado que ela nos deixou, deve ser, sim, lembrado por todos nós e passado de geração para geração, com o devido respeito que merece. Parabenizamos aos professores/mestres que hoje, ganham sua vida engajados em uma profissão que sempre foi digna de louvor, necessária e importante para a formação de uma sociedade justa, inteligente e cosnciente de seus direitos e deveres.


Parabéns!


 
 
 

Comentários


Todos os direitos reservados à Alliada Comunicações Ltda - 2019

bottom of page